terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A Recreação Escolar da Atualidade


 A recreação escolar é destinada para os alunos descansarem, lancharem, brincarem, se descontraírem; um momento em que o aluno escolhera o que fazer tendo em vista satisfazer suas vontades voltadas ao lazer.
    Este lazer vem sendo modificado com o tempo, as brincadeiras e atrativos já não são os mesmos e este modo de agir das crianças e adolescentes foi sendo transformado, pois as crianças estão cada vez mais rodeadas dessa tecnologia.
    Já ouve um tempo sem esses eletrônicos, um tempo em que as crianças aproveitavam o recreio escolar para brincar, recrear, se relacionar, as brincadeiras e brinquedos populares faziam parte da cultura, sendo transmitidos de geração para geração principalmente através da oralidade. Muitos desses brinquedos e brincadeiras preservavam sua estrutura inicial, outras se modificam, recebendo novos conteúdos. Já hoje podemos dizer que este tempo esta esquecido no contexto escolar.

FARIA JÚNIOR (1996) afirma que:
“... jogos populares infantis, parlendas e brinquedos cantados foram sendo perdidos (ou transformados) nos últimos cinqüenta anos possivelmente como conseqüência dos processos de urbanização e de industrialização.”

    Há de considerar, a questão da atividade e da passividade da criança diante dos brinquedos eletrônicos, que criam a ilusão de que elas é que os manipulam, quando, no entanto são apenas seu receptor ou mesmo seu imitador (OLIVEIRA, 1986).

    Não se trata de enfatizar ou promover nostalgicamente os brinquedos e as formas de brincar do passado como “bons” em face dos brinquedos modernos, necessariamente “ruins”, refere-se à questão de que estes têm se tornado como praticamente a única “opção” das crianças modernas (OLIVEIRA, 1986).

    Ao analisarmos as mudanças no que diz respeito ao modo de agir nos intervalos escolares das crianças e adolescentes dos dias de hoje comparadas com as de 10, 15 anos atrás podemos perceber que à tecnologia se disseminou por toda esta nova geração de indivíduos, e que pouco a pouco estão se afastando uns dos outros, pois são poucos os que interagem com amigos e colegas de escola, a maioria prefere passar o intervalo no celular, com o mp3 e outros aparelhos escutando música, jogando em seus mini-games.
    Podemos dizer aqui que a mídia nos bombardeia com informações e notícias que chegam a todo instante pela televisão, rádio, internet e até por celulares através do Twitter, torpedos sms; são vídeos postados no YouTube, fotos no FaceBook, enfim,... E com isso todas as brincadeiras, as conversas e o envolvimento de crianças e adolescentes uns com os outros estão perdendo espaço para novas formas de comportamento regidas por leis de mercado, do consumo, da mídia que exalta essas tecnologias como modelo a ser seguido, é o que foi visto e comprovado no período de recriação, pois o lazer escolar é entendido muitas vezes como lazer cansativo, pois o objetivo deste é realmente cansar os alunos a fim de estes esgotarem os excessos de energia para quando chegarem à sala de aula não atrapalharem (nem participarem!) a fala do professor (OLIVER, 1996). Não esta mais acontecendo visto que a grande parte das crianças e adolescentes encontravam-se sentados com seus eletrônicos, sendo que seus comportamentos eram mais competitivos do que cooperativo.

MARCELLINO (1989) nomeia de furto ao lúdico as atividades que negam a especificidade da criança, pois considera o universo infantil como uma etapa intermediaria para a vida adulta, deixando de lado a necessidade do seu desenvolvimento nesse período: o criar, o imaginar, o brincar, o jogar, o construir e o imitar.

    Porém estamos vivendo em um tempo de alta competitividade guiados pela lógica da acumulação de bens e das aparências; fazendo assim com que crianças e adolescentes de todas as classes sociais sigam este modelo de perfeição pós-moderna. O que importa hoje é ser reconhecido, ser admirado, ter acesso a uma infinidade de produtos e serviços e usufruir o máximo do prazer sem se preocupar com as verdadeiras necessidades.

Em "Pós-modernismo, razão e religião", de 1992, Ernest Gellner refere-se ao pós-modernismo da seguinte forma:
"O pós-modernismo é um movimento contemporâneo. É forte e está na moda. E, sobretudo, não é completamente claro o que diabo ele é. Na verdade, a claridade não se encontra entre os seus principais atributos.”

    A pós-modernidade é uma época de incertezas, de mudanças ocorridas na ciência, nas artes, na sociedade, marcada hoje em uma “nova mídia” baseada em significados digitais de disseminação de informação e transmissão; ela invadiu o cotidiano com a tecnologia eletrônica em massa, causando uma necessidade de consumo muito grande por objetos eletrônicos, com isso a tecnologia vem programando cada vez mais o dia-a-dia dos indivíduos.
    A tecnologia foi tomando um espaço considerável entre a sociedade e as crianças e adolescentes são os que mais estão ligados a isso tudo, vivemos em uma época que não estar inserido nessas tecnologias é estar fora do mundo; e é assim que as estes se sentem quando não podem trocar seus eletrônicos por outros mais modernos e sofisticados que a mídia nos trás como algo obrigatório de se obter, tornando crianças e adolescentes consumidores “insaciáveis” desde muito cedo. A mídia nos faz engolir “goela a baixo” todas essas modernidades fazendo assim com que nós cresçamos com ela em vez da tecnologia crescer com nós.

   Jean Baudrillard nos diz que a pós-modernidade é sinônima da sociedade de consumo, onde a própria crítica acaba por ser absorvida e transformada em um objeto de consumo.

 Tendo em vista então e importância da recreação e essa tão desejada tecnologia podemos dizer que o recreio é uma ferramenta muito importante no desenvolvimento humano: afetivo, cognitivo, motor, lingüístico e moral. Dentro de um contexto social, quando um indivíduo está em recreação significa que está sentindo prazer em realizar alguma coisa. Os seres humanos são movidos, principalmente, pela emoção e pelo prazer; sendo assim, fica muito mais fácil assimilar alguma coisa a partir daquilo nos faz bem, sendo possível englobar os mais altos níveis de conhecimentos e, com crianças, é importante desenvolver e estimular atividades diferentes da vida cotidiana, mas que façam parte da natureza humana, já que é na infância o período de aprendizado e da assimilação que julgamos necessária para a vida adulta. O mais importante desse contexto é permitir que diferentes grupos de pessoas, principalmente crianças, se integrem, esquecendo o preconceito de valores, distinção de raça, estrutura familiar; pelo contrário, é possível estruturar todos esses tópicos, para isto acontecer basta as crianças “abrirem mão” desse divertimento apenas voltado para a tecnologia passando a redescobrir o verdadeiro sentido da recreação tornando um momento de aprendizado e prazer para todos.

SCALCON, Franciele de Oliveira ¹
DORNELES, Camila Luceli Cortelini ²
Acadêmicas do V semestre do curso de Psicologia, URI – Campus Santiago

Nenhum comentário:

Postar um comentário