A recreação escolar é destinada para os alunos descansarem,
lancharem, brincarem, se descontraírem; um momento em que o aluno escolhera o
que fazer tendo em vista satisfazer suas vontades voltadas ao lazer.
Este lazer vem sendo modificado com o
tempo, as brincadeiras e atrativos já não são os mesmos e este modo de
agir das crianças e adolescentes foi sendo transformado, pois as crianças estão
cada vez mais rodeadas dessa tecnologia.
Já ouve um tempo sem esses eletrônicos, um
tempo em que as crianças aproveitavam o recreio escolar para brincar, recrear,
se relacionar, as
brincadeiras e brinquedos populares faziam parte da cultura, sendo transmitidos
de geração para geração principalmente através da oralidade. Muitos desses
brinquedos e brincadeiras preservavam sua estrutura inicial, outras se
modificam, recebendo novos conteúdos. Já hoje podemos dizer que este tempo esta esquecido
no contexto escolar.
FARIA
JÚNIOR (1996) afirma que:
“...
jogos populares infantis, parlendas e brinquedos cantados foram sendo perdidos
(ou transformados) nos últimos cinqüenta anos possivelmente como conseqüência
dos processos de urbanização e de industrialização.”
Há de considerar, a questão da atividade e
da passividade da criança diante dos brinquedos eletrônicos, que criam a ilusão
de que elas é que os manipulam, quando, no entanto são apenas seu receptor ou
mesmo seu imitador (OLIVEIRA, 1986).
Não se trata de enfatizar ou promover
nostalgicamente os brinquedos e as formas de brincar do passado como “bons” em
face dos brinquedos modernos, necessariamente “ruins”, refere-se à questão de
que estes têm se tornado como praticamente a única “opção” das crianças
modernas (OLIVEIRA, 1986).
Ao analisarmos
as mudanças no que diz respeito ao modo de agir nos intervalos escolares das
crianças e adolescentes dos dias de hoje comparadas com as de 10, 15 anos atrás
podemos perceber que à tecnologia se disseminou por toda esta nova geração de
indivíduos, e que pouco a pouco estão se afastando uns dos outros, pois são
poucos os que interagem com amigos e colegas de escola, a maioria prefere
passar o intervalo no celular, com o mp3 e outros aparelhos escutando música,
jogando em seus mini-games.
Podemos dizer aqui que a mídia nos
bombardeia com informações e notícias que chegam a todo instante pela
televisão, rádio, internet e até por celulares através do Twitter, torpedos
sms; são vídeos postados no YouTube, fotos no FaceBook, enfim,... E com isso
todas as brincadeiras, as conversas e o envolvimento de crianças e adolescentes
uns com os outros estão perdendo espaço para novas formas de comportamento regidas
por leis de mercado, do consumo, da mídia que exalta essas tecnologias como modelo a ser
seguido, é o que foi visto e comprovado no período de recriação, pois o lazer escolar é
entendido muitas vezes como lazer
cansativo, pois o objetivo deste é realmente cansar
os alunos a fim de estes esgotarem os excessos de energia para quando chegarem à sala de aula não atrapalharem (nem
participarem!) a fala do professor (OLIVER,
1996). Não esta mais
acontecendo visto que a grande parte das crianças e adolescentes encontravam-se
sentados com seus eletrônicos, sendo que seus comportamentos eram mais competitivos
do que cooperativo.
MARCELLINO
(1989) nomeia de furto ao lúdico as atividades que negam a especificidade da
criança, pois considera o universo infantil como
uma etapa intermediaria para a vida adulta, deixando de lado a necessidade do
seu desenvolvimento nesse período: o criar, o imaginar, o brincar, o jogar, o construir
e o imitar.
Porém estamos vivendo em um tempo de alta
competitividade guiados pela lógica da acumulação de bens e das aparências;
fazendo assim com que crianças e adolescentes de todas as classes sociais sigam
este modelo de perfeição pós-moderna. O que importa hoje é ser reconhecido, ser
admirado, ter acesso a uma infinidade de produtos e serviços e usufruir o
máximo do prazer sem se preocupar com as verdadeiras necessidades.
Em "Pós-modernismo,
razão e religião", de 1992,
Ernest Gellner refere-se ao pós-modernismo da
seguinte forma:
"O
pós-modernismo é um movimento contemporâneo. É forte e está na moda. E,
sobretudo, não é completamente claro o que diabo ele é. Na verdade, a claridade
não se encontra entre os seus principais atributos.”
A pós-modernidade é uma época de incertezas, de mudanças ocorridas na
ciência, nas artes, na sociedade, marcada hoje em uma “nova mídia” baseada em significados digitais de disseminação de
informação e transmissão; ela invadiu o cotidiano com a tecnologia eletrônica em massa,
causando uma necessidade de consumo muito grande por objetos eletrônicos, com
isso a tecnologia vem programando cada vez mais o dia-a-dia dos indivíduos.
A tecnologia foi tomando um espaço
considerável entre a sociedade e as crianças e adolescentes são os que mais
estão ligados a isso tudo, vivemos em uma época que não estar inserido nessas
tecnologias é estar fora do mundo; e é assim que as estes se sentem quando não
podem trocar seus eletrônicos por outros mais modernos e sofisticados que a
mídia nos trás como algo obrigatório de se obter, tornando crianças e
adolescentes consumidores “insaciáveis”
desde muito cedo. A mídia nos faz engolir “goela
a baixo” todas essas modernidades fazendo assim com que nós cresçamos com
ela em vez da tecnologia crescer com nós.
Jean Baudrillard
nos diz que a pós-modernidade é sinônima da sociedade de consumo, onde a
própria crítica acaba por ser absorvida e transformada em um objeto de consumo.
Tendo em
vista então e importância da recreação e essa tão desejada tecnologia podemos
dizer que o recreio é uma
ferramenta muito importante no desenvolvimento humano: afetivo, cognitivo,
motor, lingüístico e moral. Dentro de um contexto social, quando um indivíduo
está em recreação significa que está sentindo prazer em realizar alguma coisa.
Os seres humanos são movidos, principalmente, pela emoção e pelo prazer; sendo
assim, fica muito mais fácil assimilar alguma coisa a partir daquilo nos faz
bem, sendo possível englobar os mais altos níveis de conhecimentos e, com
crianças, é importante desenvolver e estimular atividades diferentes da vida
cotidiana, mas que façam parte da natureza humana, já que é na infância o
período de aprendizado e da assimilação que julgamos necessária para a vida
adulta. O mais importante desse contexto é permitir que diferentes grupos de
pessoas, principalmente crianças, se integrem, esquecendo o preconceito de
valores, distinção de raça, estrutura familiar; pelo contrário, é possível
estruturar todos esses tópicos, para isto acontecer basta as crianças “abrirem
mão” desse divertimento apenas voltado para a tecnologia passando a redescobrir
o verdadeiro sentido da recreação tornando um momento de aprendizado e prazer
para todos.
SCALCON, Franciele de Oliveira ¹
DORNELES, Camila Luceli Cortelini ²
Acadêmicas do V semestre do curso de
Psicologia, URI – Campus Santiago
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